domingo, 3 de setembro de 2017



CARTAS HISTÓRICAS
e outra história


«Ill.mo e Ex.mo Senhor. —No dia 20 tive a honra de re­ceber o Avizo de Sua Magestade datado de 7 do mesmo mez, em que houve por bem nomear-me para Bispo de Pinhel.
Eu agradeço m.to ao mesmo Augusto Senhor tão hono­rifica Mercê. Porem, Ex.mo Sr. eu não posso expressar a V. Ex.cia o pasmo q. me cauzou, e a quantas pessoas me conhecem, a elleição q. de mim faz Sua Magestade para tão sublime Dignidade.
Estou bem certo q. se Sua Magestade (que dezeja sempre o melhor bem) me conhecesse, e ainda acrescento mais me visse, não faria semelhante Elleiçao.
Nunca me lembrou, nem a pessoa alguma das que me têm tratado, e de perto me conhecem, que eu podesse ser Elleito para Bispo; tão grande, e notória he minha incapa­cidade para este formidável Emprego.
Nada em mim se encontra q. possa fazer-me recommendavel, como V. Ex.cia verá na exposição seguinte.
.Em q.to a linhagem, sou de baixa extração,e fui quatro annos caudatário do Bispo de Leiria D. Manoel d'Aguiar q. Deos tem: V. Ex.cia bellamente conhece que não parecerá bem ser elevado ao Episcopado hum homem q ha 18 annos foi visto fâmulo e caudatário d'hum Bispo.
Sou alem disto destituído de todas as qualidades q. se requerem para o Episcopado; posso afirmar a V. Ex.cia com verdade que sou hum ignorante, pois apenas frequentei os estudos do Seminário de Leiria dos quaes conservo já poucas ideas. Sabe m.to bem V. Ex.cia que hum Bispo dotado de tão poucos conhecimentos longe de ser útil á Igreja, lhe será m.to prejudicial com perigo certo de sua própria condemnação.
Tão bem não possuo o talento de governar; ha pouco mais de anno e meio fui Presidente num triennio, no fim delle se tratou da elleição de Guardião, julgando alguns se­culares que eu ia a ser elleito, os Religiosos que conhecião melhor minha insufficiencia ellegerão para Guardião hum Religioso mais novo que eu na recepçâo do habito, e que nem Presidente tinha sido. Ora Ex.mo Sr. quem não he há­bil para governar três annos huma pequena Communidade, como poderá governar toda a vida huma Diocese?
Tão bem a idade me não faz recommendavel pois que tenho som.te 39 annos; o mesmo aspecto exterior não in­culca o respeito que num Bispo se requer.
E que não diria eu a V. Ex.cia de meus defeitos moraes e da falta de virtudes já não digo próprias do Episcopado, mas do estado Religioso, se não tem esse q. V. Ex.cia julgasse que eu só por modéstia dizia mal de mim!
Á vista desta representação, a qual peço a V. Ex.cia se digne levar á prezença de Sua Magestade, não posso em consciência acceitar a Dignidade Episcopal, a que o mesmo Augusto Senhor teve por bem elevar-me.
Peço pois a Sua Magestade por tudo o q. ha mais sagrado queira conceder-me a Graça para mim a maior de todas de Dispensar-me da Obrigação de acceitar.
V. Ex.cia se digne enviar p.a esta Cidade o Despacho q. tanto desejo, para ir logo começar em certo districto deste Bispado a missão para q. fui enviado.
Coimbra, 27 de Janeiro de 1832.—Ill.mo e Ex.mo Sr. Luiz de Paula Furtado Castro do Rio de Mendonça - de V. Ex.cia  Att.o V.or e e S. (a.) Fr. Francisco de Jesus Maria».   

Comentário no opúsculo “Cartas Históricas” de João Jardim de Vilhena, Coimbra, 1933:
Sublime escusa de um pobre clérigo que se julga o mais ínfimo e o mais inútil para suster nos seus ombros o encargo magnífico de um episcopado! (Como ele mostra os seus defeitos físicos e os seus defei­tos morais e como ele sai fora da craveira do tempo em que todos se julgavam competentíssimos para todos os cargos, para os quais bastava a vontade de um ministro, o manejar de uma intriga ou a alegação (muitas vezes inerme) de serviços em prol do Trono ou do Altar!
A sua recusa foi atendida e em seu lugar foi nomeado o varatojano Leonardo Bessa que foi o quarto e último Bispo da Diocese de Pinhel.

Mais um comentário:
1.- Onde se encontram hoje homens com este caracter? E que falta fazem!
2.- Deve estar errada a data da carta porque Luiz de Paula... de Mendonça, 6° Visconde de Barbacena, faleceu em 1830, ou então o pobre frade não sabia.



Visita a Napoleão
1808 – Uma pequena “historinha”

Segundo Joaquim de Araújo, no seu “Arquivo d’Ex-Libris portugueses”, em 1808, de Portugal, ocupado pelos exércitos franceses junto com tropas espanholas, a família real já tendo “dado no pé” para o Brasil, foi enviada, por Junot, a Bayonne uma missão diplomática para cumprimentar Napoleão em nome do reino e, pedir-lhe um rei para Portugal.
Não terá sido bem assim. Os membros dessa Missão apresentaram uma proposta no sentido de diminuir a contribuição de guerra do País, bem como a manutenção da soberania portuguesa e da Casa de Bragança no poder. Isto irritou o imperador de tal forma que os deputados viriam a ser feitos reféns e enviados para Bordéus, só regressando a Portugal em 1814, após a primeira abdicação de Napoleão e a restauração bourbónica na pessoa de Luis LVIII.
Compunham essa embaixada os seguintes janotas:

António de Araújo de Azevedo, 1° e único Conde da Barca.


Foi o único que regressou logo, e seguiu para o Brasil. Levou consigo a sua imensa biblioteca e máquinas impressoras de sua propriedade, de onde nasce a primeira tipografia no Brasil.
(No próximo texto falaremos mais deste senhor)

Dom José Maria de Melo, Bispo do Algarve


Confessor da Rainha D. Maria II e, segundo constou, tanto meteu na cabeça da Senhora que ela enloqueceu! Inquisidor mor, partiu com a deputação em Março de 1808, e pelos sucessos que sobrevieram, não pôde sair de França, assim como aconteceu aos outros que o acompanhavam. Esteve preso em Bordéus até 1814, quando se fez a paz, podendo então regressar a Portugal.

Dom Lourenço de Lima, 1° Conde de Mafra


Embaixador em Paris, foi mandado como representante da corte portuguesa cumprimentar o novo Imperador. Expulso em 1807 por ordem de Napoleão, regressa a Bayonne e depois a Paris para solicitar que Napoleão revogasse a contribuição de 18.000 francos imposta a Portugal. Ali ficou prisioneiro com outros, e mais tarde o governo no Rio persegui-o como jacobino.

Pedro de Melo Breyner


Pai do 1° conde de Melo - Luís Francisco Estêvão Soares de Melo da Silva Breyner -  fez parte da mesma deputação. Depois da Convenção de Sintra, derrotado Junot, o general Dalrymple, inglês, restabeleceu o governo da regência, mas excluiu Pedro de Melo Breyner por suspeito de estar ligado aos franceses, de que foi depois absolvido. Partidário das ideias liberais, acabou prisioneiro na Torre de São Julião da Barra.

E ainda o mesmo acima citado
Luiz de Paula Furtado Castro do Rio de Mendonça, 6° Visconde e 1° Conde de Barbacena



Ficou também como refém em França e só regressando a Portugal em 1814.


20/07/2017

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