terça-feira, 11 de abril de 2017



ANGOLA
Histórias da sua História
(Adenda ao texto anterior)


Vimos que Porto Alexandre teve vários nomes. Parece que teria começado como Porto Pinda, depois, Angra das Aldeias e, cerca de 1835 um explorador inglês, com autorização do governo português (???)  explorou aquela região, desenhou uma carta do que viu e nela inscreveu aquela baía – Angra das Aldeias – com o nome de “Port Alexander”, aliás muita mal colocada geograficamente.
Os babacas que então governavam Angola e/ou Portugal, não corrigiram a carta e assim se mudou a baía para o nome de um totalmente estrangeiro, o nome que era lindo, Angra das Aldeias, ou até Pinda.
Em 1860 com a chegada de algarvios o tal Porto Alexandre começa a tomar vulto, até, como se viu, com a magnífica Dona Maria da Cruz, e de lá “brotaram” uma boa quantidade de angolanos, muitos dos quais viraram “meus sobrinhos”!!!
Um dos fundadores de Porto Alexandre foi João Dolbeth e Costa. E agora o meu coração voltou a bater mais depressa:
1- Quando visitei Moçamedes, primeiro em 1958 e depois aí por 1962 ou 3, estive com um dos seus descendentes. Qual não lembro. Mas na ida a Angola na já “famosa” e quase lendária travessia no Mussulo, chegámos a Namibe dia 03 de Janeiro de 2006 e, uma das pessoas que nos aguardava na praia era o “Lanucha”, o general Alexandre Dolbeth e Costa, um amigo, que virou “sobrinho” e que deve fazer parte das grandes figuras de Angola. A sua atuação nas Forças Armadas a defender a fronteira sul contra os sul-africanos e, sobretudo, a sua alegria e simpatia contagiantes, marcaram a nossa rápida estadia na capital do Namibe.
2- Desta vez tentei lembrar de outras pessoas com quem estivera em 58! Lembrava só do nome “Mac-Mahon Vitória Pereira”. Um e uma irmã que me foram buscar ao hotel e me levaram a uma inesquecível visita à Baía das Pipas. Mas ninguém mais dessa família vivia já em 2006 no que fora Moçamedes, e virara Namibe, e agora, quer queiram quer não, voltou a ser Moçamedes!
Depois, durante a curta estadia em Luanda, antes de regressar a casa, cansado, demasiado emocionado com tudo o que tornara a ver e muito sentir, um dia, estava no Club Naval e apareceu um senhor, barba e cabelo brancos, bem mais novo do que eu, e com ele um rapaz aí dos seus dezessete anos.
Dirigiu-se a mim:
- Sei que foi amigo do meu pai e por isso venho cumprimentá-lo. O meu pai foi o Mac-Mahon Vitória Pereira (continuo a não recordar o primeiro nome, infelizmente) que o levou à Baía das Pipas. E trouxe o meu filho para o conhecer!
Se eu já estava num alto estágio de emoção, aquele gesto de imensa simpatia derrubou-me ainda mais! Só lembro – agora já lá vão mais onze anos – que este senhor era professor da universidade em Luanda. Se lhe chegar esta pequena nota ao conhecimento, saiba que não o esqueci, e lhe mando um forte e amigo abraço. E ao filho.
3- Outro dos primeiros povoadores foi Alexandre Augusto de Sampaio Nunes. Aí por 1954 conheci, possivelmente um dos seus netos Acrísio (Tendinha?) Sampaio Nunes, que trabalhava na Companhia Mineira do Lobito, com sede em Nova Lisboa!
4.- Por fim a família Tendinha, (serão todos descendentes do 1º presidente privativo da Câmara Municipal de Porto Alexandre, Lourdino Fernandes Tendinha?) começando pela “grande cineasta” Ana Clara Tendinha Rivera que filmou a chegada dos velejadores, do Rui Tendinha que nos albergou no seu simpático e confortável hotel/compound, e depois em Luanda o Mário Tendinha e o Manuel João Tendinha Pimentel Teixeira!
Parece que todos têm boas raízes em Porto Alexandre/Tombua, mas... e o Namibe?
Do Google Earth. O traço vermelho indicou uma distância entre
Namibe e Tombua de cerca de 40 kms.

Namibe? Mais um apontamento sobre aquelas terras do sul, enquadradas pelo deserto do Namibe pelo nascente e pelo generoso e lindo mar pelo poente.
A cidade de Moçamedes, após 1975 virou Namibe, a capital da Província do Namibe, dentro do deserto do Namibe, perto da fronteira com a Namíbia, confrontando com o... deserto do Namibe, na Namíbia. Um tanto confuso, não?
O padrão de Cabo Negro foi por ali colocado, como já vimos, por Diogo Cão em 1485. Dois anos depois Vasco da Gama esteve na Angra das Aldeias e por portugueses.
Em 1770 o sertanejo João Pilarte da Silva desceu a Chela para ir socorrer uns náufragos que tinham dado à costa.
Em 1787 nova expedição em que participou o naturalista Joaquim José da Silva encontrou o padrão original derrubado e o reergueu.
Em 1785 outra expedição, comandada pelo tenente coronel de engenharia Luis Candido Barreto Pinheiro Furtado, saiu de Benguela na fragata Loanda, fundeou na Angra do Negro, e a batizou com o nome do governador que ordenara essa expedição: Baía de Moçamedes.
Moçamedes deve assim este nome ao 6º Senhor de Mossamedes, e 1º Barão de Moçamedes, José de Almeida e Vasconcelos (José de Almeida e Vasconcelos Soveral de Carvalho da Maia Soares de Albergaria) que foi governador de Angola entre 1784 e 1797. Moçamedes, ou Mossamedes, que até soa como uma palavra de origem angolana, nada tem disso!
Vem dum Reguengo de Mossamedes, que foi doado em 1389, pelo rei D. João I a Gonçalo Pires de Almeida, por seus serviços e para casar com Inês Anes, sua parenta, viúva de Afonso Fernandes de Figueiredo.”
Família com nobreza medieval (séc.XIV) por ter a varonia antiga dos "Almeidas por quem o Tejo chora", foi a primeira que usou o duplo apelido Almeida e Vasconcelos. Tem o título "de juro e herdade" de Barão de Mossâmedes, que tirou do Reguengo de Mossâmedes (na Beira) propriedade concedida aos seus antepassados em 1388.
Ao fundar a povoação, no sul de Angola, o Ten. Cor. homenageou o nome do antiquíssimo reguengo propriedade da família do governador.
Esteve assim a antiga “Angra dos Negros” com o nome de Moçamedes durante, pelo menos 190 anos.
Agora, depois da independência lhe ter mudado o nome, a cidade de Namibe é riscada do mapa e volta a aparecer a cidade de Moçamedes!
Porque este “volte face”? Não sei e ainda não encontrei quem o explique, assim como não vislumbro o porquê de Porto Alexandre (nome aliás mal dado) ter virado Tombua, quando podia ter voltado para Pinda!
Coisas da política... sempre mesquinha, e quantas vezes destruidora da história!


10/04/2017

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