quinta-feira, 26 de abril de 2012



O Futuro a Deus pertence... mas...



Velho adágio! Desde tempos imemoriais procurando ser desmentido pelos “espertos”! A esta casta pertenciam os sacerdotes da alta antiguidade, as pitonisas em Delfos, e continua nos astrólogos, cabalísticos, feiticeiras, bruxas, xinguilas, ngangas, xamãs, leitores de tarô, “intérpretes” de búzios ou das entranhas de animais, e até naqueles que “simplesmente lendo” as linhas da mão ficam a prever tudo!
Até Zaratustra é posto à prova. Os séculos vão passando e, depois de qualquer acontecimento de destaque sempre aparecem uns estudiosos que relacionam esse caso com escritos zaratustrianos! Vê-se que não têm muito em que ocupar a mente!
Aos profetas bíblicos não terá sido tão difícil anunciar a palavra de Deus, porque, homens santos, sempre acreditavam que os homens um dia (quando?) seriam melhores. Anunciou-a até Francisco de Assis e os homens de boa vontade; os que pregam que o paraíso pode estar mesmo aqui, na Terra.
Conta a Bíblia que um dia José, vendido como escravo para o Egito, interpretou o terível sonho do faraó e previu os sete anos de fartura seguidos dos sete de fome. Talvez o único, e assim mesmo, estando escrito na Bíblia... ninguém cientificamente garante a sua veracidade.
“A ciência dos futuros, disse Platão, é a que distingue os deuses dos homens, e daqui lhes veio sem dúvida aquele antiquíssimo apetite de serem como deuses. Aos primeiros homens, a quem Deus tinha infundido todas as ciências, só a dos futuros lhes faltava, e esta o Demônio lhes prometeu, quando lhes disse: Sereis como Deuses, conhecendo o bem e o mal.”
No homem “a esperança é a última a morrer”, mas apesar de muito “seguras”, as promessas dos antigos profetas, cansavam o povo de tanto esperar por elas. Esperavam e desesperavam, porque primeiro se lhes acabava a vida do que se concretiza a esperança!
Deixavam os pais em testamento as esperanças aos filhos, aos netos e nem estes chegavam a ver o cumprimento do esperado.
A Abraão prometeu Deus as terras da Palestina, mas foi preciso que Josué as conquistasse com a espada, talvez mil anos mais tarde!
É sempre maior a utilidade do conhecimento das cousas passadas do que só a esperança nas futuras. Por isso os egípcios não olhavam para o deus do céu porque, mesmo vivendo exclusivamente das águas para a agricultura, não era o deus do céu que as mandava, mas o Nilo que as trazia!
Não só a ciência como o bom senso, permitem hoje que se faça um pouco de futurologia a curto prazo! A longo... ainda não.
Com tanto desperdício por estupidez e cupidez, a Europa entrou numa espiral invertida. Não como os tornados que puxam tudo para cima, mas outra que a está puxando para baixo. E assim não foi difícil antever que os governos que foram apanhados pelo rebentar da crise fossem postos fora. Grécia, Itália, Espanha e Portugal, Holanda, Grã Bretanha, e agora a França, terra dos bons vinhos, gastronomia e greves, sobretudo greves, que tanto ajudam a corroer por dentro. E outros se seguirão.
Nenhum dos novos governos que entrou ou vai entrar para enfrentar a crise sairá indeme. Vão todos perecer porque não têm mais meios para sair da recessão. Parece que ainda não entenderam o “recado” do FMI: “Não é com arrocho que se avança, mas com criação de postos de trabalho, que se faz a riqueza.”
É aqui que entra a esperança, a tal que, mesmo anunciada pelos profetas sempre morria com cada geração. E nova espiral se forma. Um dia os países vão poder voltar a viver com alguma dignidade. Quando? Por enquanto... esperança. Só.
A bola de cristal no que diz respeito aos EUA não também aparece muito nítida! Mas à sua volta a energia que se sente é negativa. Apanhados no mesmo turbilhão da Europa, e talvez o principal responsável de toda esta desgraça, lutam vigorosamente para sobreviver. Mas, oh! preversa esperança! aproximam-se as eleições para a presidência e o candidato da extrema direita, um fundamentalista cristão (não será um contra-senso um cristão ser fundamentalista em vez de universalista?) vai querer continuar a manter os privilégios dos milionários, abandonando às suas sortes os menos favorecidos.
E os milionários são os fabricantes de armas, a indústria farmacêutica, a Bolsa, a banca. Mesmo na nebulosa que circunda a “bola de cristal” parece antever-se uma maior degradação do país mais rico do mundo! E um aumento – se tanto for possível – da tensão no Médio Oriente.
Além disso, segregacionistas, até hoje não se perdoam ter perdido as últimas eleições para um negro! Isso os fundamentalistas não engolem. A esperança, nos EUA, será o voto dos jovens, dos latinos e dos mais desfavorecidos, que os há aos milhões no país da teórica “Liberdade e Igualdade”. E eu gostaria de apostar nesta esperança.
Para o mundo inteiro a esperança está no Quinto Império! O Império do Espírito Santo, com um imperador menino, sem fome e sem presos, nem cadeias. O “quando” é que demora. Vão passar-se gerações e gerações até que isso aconteça.
No Brasil, o país do futuro que Stefan Zweig “previu” há mais de setenta anos, tarda também a chegar. O país não entrará no futuro enquanto tiver um congresso podre, uma corrupção incomensurável, uma educação deficiente, treze milhões de pobres, um governo de compadrios escusos, um judiciário que obedece ao executivo, e nem mesmo distribuindo dinheiro, não por caridade mas para compra de votos, em vez de investir com força, muita força, na criação de postos de trabalho.
O Quinto Império é um sonho. A verdadeira esperança. E é bonito sonhar. Mas não chega. Entretanto é preciso combater, os muitos “status quo” que impedem, impossibilitam, que todos os povos alcancem o seu Futuro.



25/04/2012

segunda-feira, 23 de abril de 2012



Culturas... ou inculturas?


Muito se criticam entre si os povos de culturas diferentes! Cada um acha que a sua cultura ou o seu Deus é que estão certos, criticam, ridicularizam, e, quantas vezes tentam interferir, e interferem, na vida dos outros. A bem ou na espada!
A história nos mostra dezenas, centenas de casos de intolerância!
Nós, ocidentais, continuamos indignados com algumas práticas selváticas, ainda em rigoroso vigor nalguns países, como a excisão feminina (ou circuncisão feminina). Uma forma de bestialidade é o domínio do homem sobre a mulher, que resignadas e medrosas sofrem toda a espécie de abuso.
Outra situação que não compreendemos é o usa da burca. A mulher obrigada a usar aquela carapaça, nos dias quentes, deve estufar.
Por outro lado há outros hábitos como o ichad (que deu origem a echarpe), aquele véu com que as mulheres árabes cobrem a cabeça deixando o rosto à vista, que podem considerar-se perfeitamente normais.
Todos os povos – mulheres – do mediterrâneo usavam, e muitas ainda usam esse lenço, como é fácil encontrar nas mulheres mais idosas, em Portugal, na Grécia, na Espanha. Não é uma invenção árabe, mas um costume que vem de muito antes do islamismo.
Nos séculos anteriores, do XX para trás, a evolução da moda fez muitas mulheres trocarem esse lenço, por chapéus, e os homens, os turbantes também por chapéus vários, como as cartolas, os “coco”, palhinha, etc..
No principio do século XX, em Portugal, os homens ficavam excitados só ao verem o tornozelo das mulheres, ao subirem, por exemplo, para uma carruagem!
Mas enquanto a “evolução” não começou a despir homens e mulheres, sobretudo as muheres, o interêsse pelo sexo oposto era muito mais respeitoso. Era bonito.
Consta que um dos problemas que derrubou o Império Romano, foi a bandalheira de costumes em que se envolveram os seus maiores. Prostituição descarada, adultério, sodomia, eram exibidos como demonstração de “status”!
O mais grave de tudo isto é a destruição do núcleo central de qualquer sociedade: a família.
Causa até mau estar assistir-se hoje ao estímulo do sexo desenfreado, sexo livre, como se isso fosse um “valor adquirido”! Cada um dispôr do seu corpo para fins unicamente de prazer... quando dá prazer! Isso é liberdade? Ou liberdade não será cada um impor a sua moral?
Qualquer revista, mesmo que o assunto seja literatura ou filosofia, “obriga-se”, para chamar a atenção dos idiotas, a trazer na capa a figura duma mulher despida ou mostrando estupidamente o quanto de silicone conseguiu colocar no peito! E não só no peito: na bunda, nas coxas, nas rugas da cara, e que as operações plásticas acabam por desfigurar.
Calcula-se que largas centenas de milhares de mulheres fizeram implantes nos peitos. Para que tudo isso? Mas não são só as mulheres!
A quantidade de homens que fazem plástica, usam botox, ou implantes para mostrar braço e perna fortes, musculos abdominais (de mentirinha), passa dos 20% de todo esse grande negócio. Alguns conhecidos atores de cinema, hoje parecem mais bonecos de cera do que gente.
Mas há outros hábitos culturais, dificeis até de qualificar.
Há dias, em Brasília, na piscina de um clube, um funcionário da Emaixada do Irão, enquanto nadava na piscina, com crianças, foi metendo a mão nas pernas de garotinhas de 10 a 12 anos. Uma, já de 14, foi queixar-se ao gerente do clube que logo interditou a piscina. E começa a polêmica. O iraniano tem imunidade diplomática. O governo brasileiro reclamou e a Embaixada dos aitolás respondeu que não via nada de mal no assunto: era só uma questão de “culturas diferentes”! O caso está a ser investigado para ver se pode indiciar o miserável. Parece que entretanto ele já deu o fora para casa, onde, para manter a sua “cultura” viva deve ir meter a mão nas saias da mãe... do Hamanidejah ou do aitolá!
Outra “cultura” interessante é a dos americanos. Maravilha.
Para que não pensem ser invenção minha, passo a transcrever uma notícia escrita por um jornalista americano:


Quanta bobagem

DORRIT HARAZIM

Será difícil para qualquer país, mesmo do quinto mundo, conseguir superar a mais recente estultice dos Estados Unidos. Berço do politicamente correio e incubadora das versões mais xiitas da prática, a nação americana acaba de ultrapassar um novo patamar.
Uma diretriz da secretaria de Ensino de Nova York enviada semanas atrás a várias empresas que elaboram testes educacionais para a prefeitura, parece saída de um programa de humor. Ela lista meia centena de palavras, topicos ou referências que devem ser evitados, diz a instrução, "para não provocar emoções desagradáveis nos estudantes".
As palavras proibidas são tão anódinas que não mereceriam registro algum. Acopladas ao arrazoado que as acompanha para justificar o veto, contudo, elas adquirem vida nova e delirante. Alguns exemplos:
"Dinossauros" - segundo os zelosos educatecas nova-iorquinos, os simpáticos dinos, que de tão queridos pela garotada já foram rebatizados pelo diminutivo, arriscam evocar a evolução das espécies e portanto ferir as suscetibilidades de crianças formadas dentro dos preceitos do fundamentalismo criacionista.
"Aniversários" - seguidores das Testemunhas de Jeová não costumam celebrar a data, portanto melhor evitar. Aproveitando a ocasião, convém também banir menção ao inofensivo (embora irritante) Halloween, o Dia das Bruxas, hoje imitado no Brasil, por sugerir paganismo. E "dança", seja na forma verbal ou substantiva, só se for na modalidade balé.
Na mesma linha, conceitos como "terrorismo" foram previsivelmente considerados por demais assustadores, e "escravidão", por via das dúvidas, também merece ficar fora de testes de avaliação.
Segundo a porta-voz da secretaria municipal da pasta, ouvida pelo "New York Post", alguns desses tópicos, "embora perfeita¬mente aceitáveis em outro contexto, não se en-quadrariam numa avaliação mais ampla da realidade da cidade". Há quem divirja. O que fazer com Mitt Romney, o candidato (quase) oficial do Partido Republicano, encar¬regado de enxotar o presidente Barack Obama da Casa Branca em novembro próximo? Uma das instruções no novo léxico politicamente correto recomenda passar ao largo luxos e riqueza, piscinas e mansões, para não melindrar sensibilidades sociais. "A intenção é evitar ofender ou prejudicar qualquer aluno por ele ter pouca familiaridade prévia com o tema", explicou o porta-voz da Core Knowledge, uma das fundações que elabora testes educacionais no país.
Coincidentemente, dias atrás, Romney liderou o noticiário em boa parte da mídia por algo tão tolo como a diretriz sobre os testes, mas que nela en¬controu um ponto de interseção. Segundo revelou o jornal eletrônico "Político", o ex-governador de Massachusetts aproveitaria a reforma que pretende fazer numa casa em La Jolla na costa do Pacífico, para instalar um elevador interno e uma lavadora automática para os quatro automóveis que mantém na casa de praia.
Foi um brouhaha. De uma hora para outra todo mundo queria detalhes desse elevador capaz de lhe trazer o carro quase até a mesa de jantar, e Romney arriscou ser crucificado por teimar em ser bilionário e usar o dinheiro da forma que melhor lhe convém. Ou, na ponta oposta do ideário partidário, ser admirado justamente por se ter tornado bilionário e usar a fortuna como quiser. Como opinou o tuiteiro David Waldman na seção de humor que o episódio gerou, "certamente há razões sólidas para se ter um elevador doméstico de carros. Você apenas não é rico o suficiente para saber quais são elas". Eike Batista, que até pouco tempo tinha na sala a Mercedes SLTL-McLaren usada pelo filho Thor, além de uma Lamborghini, sabe.

Disparidades sociais são difíceis de deletar com uma canetada. Mais difíceis ainda do que convencer a molecada do Harlem ou do Brooklyn a não se interessar ainda mais pelos hábitos da atriz australiana Nicole Kidman, que recentemente se tornou a primeira moradora de Manhattan a ter um elevador que lhe leva o carro até a cobertura que ocupa em Chelsea.

DORRIT HARAZIM é jornalista


Fica para a próxima o comentário sobre o tal de Mitt Romney, que estou a ver na minha bolinha de cristal!




23/04/2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012



Com a devida vénia transcrevemos dois textos, magníficos.
Um do escritor João Ubaldo Ribeiro, e outro de um dos maiores artistas que o Brasil teve e perdeu há poucos dias: Chico Anysio.
Um é o desabafo da triste situação em que o país se encontra, outro um maravilhoso “auto retrato” do menino! Espero que apreciem.



Vamos e venhamos outra vez


JOÃO UBALDO RIBEIRO

Volta e meia, toco no assunto de hoje, sempre com as mesmas opiniões. Não adianta nada, mas sei que há muita gente que pensa parecido e gosta de ver estas observações expostas novamente, com outras palavras. Não há de ser em minha geração, mas virá o dia em que nos tocaremos de vez. Morrerei cético, mas na torcida e com o fio de esperança que todos precisam carregar. Refiro-me a nós mesmos, o tão falado povo brasileiro.
Quando eu era um jovem metido a várias coisas (aliás, tão metido que, se ho¬je encontrasse um fedelho opinioso como eu era aos vinte, desapareceria do recinto assim que ele falasse e me manteria à distância, no mínimo em outro município), os brasileiros não tinham culpa pelo atraso do país, mais tarde adornado com a designação, então em uso chique, de "subdesenvolvimento". A culpa era do imperialismo norte-americano, tudo o que de ruim nos aconte¬cia era culpa do imperialismo norte-americano. Até quando a moça não queria nada com a gente, a culpa era do imperialismo, que impunha padrões de beleza masculina humilhantes e ainda obrigava a gente a usar blusão James Dean no calor de Salvador, afetar ares entediados e besuntar o cabelo com as banhas e cremes fedentinosos que inventavam para nossos penteados serem iguais, por exemplo, ao do Farley Granger. Elas, as coroas do meu tempo, hoje ficam com vergonha e fingem que esqueceram, mas caíam até em sussurrinhos indecorosos, quando esse tal Farley Granger e seu famoso penteado apareciam na tela. Legiões de compatriotas foram assim ultrajados pelo imperialismo.
Para vencer esse poderoso inimigo, mobilizaríamos as massas e faríamos a Revolução. Mas, como já assinalava o bom juízo dos antigos, ser revoltado é fácil, difícil é ser revoltoso. A maior parte dos revolucionários era mais para a revoltada e debatia temas palpitantes, tais como a existência de uma burgue¬sia nacional ou a vigência de regimes feudalistas no Nordeste, e só dois ou três gatos-pingados eram revoltosos e tentavam ir além do debate, geralmente com resultados péssimos para a saúde. A Revolução se foi, o negócio passou a ser as grandiosas Reformas de Base, que ninguém nunca soube direito de que se trataria e que agora todo mundo esqueceu de vez.

Poupando-nos um retrospecto que não traria nenhuma novidade, o que te¬mos é o que está aí. Todo mundo sabe como é ruim a situação do Brasil em carga tributária, em saúde, em educação, em transportes, em segurança pú¬blica, em trânsito urbano, em aplicação da justiça, em saneamento básico e, en¬fim, em praticamente todas as categorias concebíveis. Não lembro um só dia, nos anos recentes, em que uma grande tramoiá, um desvio de dinheiro espetacular ou um roubo sem precedentes não seja matéria dos noticiários. Ninguém mais presta atenção direito, confunde tudo e o resultado final é uma espécie de monturo na cabeça da gente, que se amontoa espantosamente a cada dia.
Os partidos políticos não são nada, nem em matéria de crenças e princípios, nem de qualquer outra coisa; não há ideais, há interesses. Não são partidos, são bandos ou, sem esticar demais a metáfora, quadrilhas rapineiras, que não pensam nos interesses do país, mas na aquisição de poder e influência geradora de riqueza. Os homens públicos, dentro ou fora dos parlamentos, em todos os níveis, parecem não conseguir escapar à malha corruptora que abafa o Estado em todas as esferas. E, de qualquer forma, injustiça ou não, a palavra "político" é hoje quase sinónima de ladrão.
Mesmo quando não há ilegalidade, há indecência, há recursos a eufemismos cínicos e trapaças engenhosamente maquiladas de manobras legítimas e o fato é que o Estado, sustentado pelos impostos mais altos do mundo, conti¬nua a ser sugado de todas as maneiras, fraudado de todas as formas. Roubam parlamentares, roubam administradores, roubam funcionários, roubam todos. Para lembrar somente um exemplo mais recente, averba liberada para a reconstrução de Teresópolis, não deve ter sido suficiente, já que nada se fez. Aliás, li que instalaram algumas sirenes. Mas deviam ser de qualidade inferior, porque várias falharam. Isso é o que dá, quando se libera verba sem prever a taxa de corrupção aplicável por praxe.
É pensando nessas coisas que vem uma saudadezinha do imperialismo, era bem melhor, pensem aí. Agora a gente matuta, matuta, e chega à desagradável conclusão de que sempre quisemos botar a culpa do nosso atraso, do subdesenvolvimento ou que outros males nossos citemos, em alguém diferente de nós. A mania vem diminuindo um pouco, mas até hoje é comum um cidadão indignado discursar no boteco, espinafrando o brasileiro - o brasileiro não obedece à lei, o brasilei¬ro é malandro, o brasileiro não tem educação, o brasileiro isso e aquilo. Brasileiro, quem? Ele não, e os outros sim?
Parece sempre necessário lembrar que somos todos brasileiros e envolvidos na vida bra¬sileira, Há quase duzentos anos, somos donos exclusivos disto aqui e nunca fizemos por onde honrar a imensa riqueza que herdamos, mas, ao contrário, instauramos desigualdades monstruosas, assaltamos a fazenda pública e fomentamos o atraso à custa do prejuízo geral e do ganho dos privilegiados. Somos nós os responsáveis pelo que está aí, nada disso se fez, ou se faz, por geração espontânea, fomos nós. Cabe repetir a verdade, já cediça, de que os corruptos não são marcianos, são também brasileiros como nós, aqui paridos e criados. Portanto, vamos e venhamos, pode ser chato, mas a evidência se impõe, não é possível fugir dela. Toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má produz frutos maus. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má dar frutos bons. O autor destes dois últimos pensamentos foi até um pouco lembrado nesta Páscoa, embora bem menos que o coelho.

JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor.



Chico Anysio


Vou fazer um apelo. É o caso de um menino desaparecido. Ele tem 11 anos, mas parece menos; pesa 30 quilos, mas parece menos; é brasileiro, mas parece menos.
É um menino normal, ou seja: subnutrido desses milhares de meninos que não pediram pra nascer; ao contrário: nasceram pra pedir.
Calado demais pra sua idade, sofrido demais pra sua idade, com idade demais pra sua idade. É, como a maioria, um desses meninos de 11 anos que ainda não tiveram infância.
Parece ser menor carente, mas, se é, não sabe disso. Nunca esteve na Febem, portanto, não teve tempo de aprender a ser criança-problema. Anda descalço por amor à bola. Suas roupas são de segunda mão, seus livros são de segunda mão e tem a desconfiança de que a sua própria história alguém já viveu antes.
Do amor não correspondido pela professora, descobriu que viver dói. Viveu cada verso de "Romeu e Julieta", sem nunca ter lido a história.
Foi Dom Quixote sem precisar de ler Cervantes e sabe, por intuição, que o mundo pode ser um inferno ou uma badalação, dependendo se ele é visto pelo Nelson Rodrigues ou pelo Gilberto Braga. De seu, tinha uma árvore, um estilingue zero quilómetro e um pássaro preto que cantava no dedo e dormia em seu quarto.
Tímido até a ousadia, seus silêncios gritavam nos cantos da casa e seus prantos eram goteiras no telhado de sua alma.
 
Trajava, na ocasião em que desapareceu, uns olhos pretos muito assustados e eu não digo isso pra ser original: é que a primeira coisa que chama a atenção no menino são os grandes olhos, desproporcionais ao tamanho do rosto.
Mas usava calças curtas de caroá, suspensórios de elástico, camisa branca e um estra¬nho boné que, embora seguro pelas orelhas, teimava em tombar pró nariz.
Foi visto pela última vez com uma pipa na mão, mas é de todo improvável que a pipa o tenha empinado. Se bem que, sonhador de jeito quê ele é, não duvido nada.
Sequestrado, não foi, porque é um menino que nasceu sem resgate.
Como vocês vêem, é um menino comum, desses que desaparecem às dezenas todas os dias.
Mas se alguém souber de alguma notícia, me procure, por favor, porque... ou eu encontro de novo esse menino que um dia eu fui, ou eu não sei o que vai ser de mim.


Lindo!

20/04/2012







segunda-feira, 16 de abril de 2012



Agora é Lei !



Sexa, a madama dona presidenta, fez aprovar no congresso uma lei do maior interesse social e até universal.
Como o congresso nada mais tem o que fazer além de politicalhas e roubalhadas, aprovou esta lei num abrir e fechar de olhos, porque ali ninguém fecha os olhos, uma vez que ao lado sempre está um, ou mais, que lhe podem levar a carteira.
Pois esta lei, novidade em todo o mundo – vejam como o Brasil se destaca no cenário mundial – determina que se corrija o gênero das palavras que definem a formação de cada um, de acordo com o seu sexo. Brilhante!
Além dela, a tal madama, já ter exigido que lhe chamem presidenta – o que nenhum jornal ou noticiário de tvs independentes faz – conseguiu agora o que tão ferozmente almejava, o objetivo primeiro da sua presidencice:
- quem terminar um bacharelato será bacharela, de gerenciamento, gerenta, assistência social, assistenta, e por aí vai. Digam se isto é ou não um tremendo dum progresso face a um mundo até hoje incapaz de ter tomado tamanha e vital decisão.
- agora teremos, só nas forças armadas, tenentas, almirantas, generalas, soldadas, cabas, pilotas, majoras, coronelas, sargentas. No fogo ficam as bombeiras e os policias passam a polícios!
- no que diz respeito aos condutores de veículos a lei esqueceu de determinar que os homens também têm direito a distinção e que deviam passar a ser motoristos, e os seguranças passarem a seguranços.
- e quem faz serviços a domicílio ou na construção, também é presenteado com esta maravilhosa evolução: as diaristas passam a ser diaristos, encanadoras, pedreiras, serventas, eletrecistos, etc.
Não há mais dúvida de que o famigerado Acordo Ortográfico tem que ser desfeio.Tamanha demonstração de estupidez não pode inundar a língua portuguesa, fora do Brasil. Imaginem se esta barbaridade chega ao conhecimento dos linguistas angolanos, timorenses e até goeses! Catástrofe.
 
Mas não há-de ser nada. O supremo tribunal acaba de inocentar um miserável que fazia sexo com garotinhas de 12 anos. A defesa argumentou que elas, pela vida de miséria, já se prostituiam, e não se podia assim considerar estupro. Mas o SUPREMO tribunal, em vez de levantar a voz da moral e decência, condenando qualquer um que tenha relações sexuais com crianças, ainda deu o seu consentimento!
Meu Deus! O Brasil a entrar no primeiro mundo!
 
O velho rábula, ex-presidente, já está quase bom da goela, e voltou aos palanques. Para agradar aos metalúrgicos conseguiu da sua subalterna – a famosa madama dona presidenta - uma verba de 80 milhões de reais para se fazer o museu do trabalhador. Vai ter na entrada o torno que (infelizmente só) cortou o dedo do desajeitado trabalhador que virou presidente! E montes de fotos do...
Ano de eleições municipais. Vão disputar-se no tapa as alianças entre extremistas para dividirem bolos generosos e gostosos como as perfeituras de São Paulo, Rio, Salvador, etc. E lá anda o lula ao lado dos apaniguados. Entretanto subiu já num palanque para discursar às massas petistas, mas... ao fim de poucos minutos perdeu o pio!

Em sintonia com a presidenta, depois de berrarem, baixinho, durante dez ou vinte anos, sobre o absurdo valor dos juros cobrados pelos bancos, agora a dita abriu guerra.
In factum, o Brasil além de ser bom no futebol, tem sido o melhor do mundo nas taxas de juros bancários! Chegam a 150% ao ano! O sread mínimo ronda os 35%, e governo decidiu fazer disso um palanque. Mas... há dois bancos do Estado, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Porque eles acompanhavam as taxas dos bancos particulares e só agora o (des)governo se deu conta?
Claro que os bancos roubam p’ra caramba, mas desses 35% de spread o (des) governo esqueceu de dizer que 23% são impostos! Um esquecimentozinho perdoável.
É evidente que mesmo ficando SÓ 12% líquido para o banco, os lucros são astronômicos! E agora começou a briga: para os bancos baixarem as taxas o (des) governo tem que baixar os impostos, ou então vamos assistir a situações como a que o BB já anunciou que a taxa para a indústria vai passar de 1,5 para 1,3... ao mês! E a Caixa: anuncia já na Tv uma redução de 59% nos juros!!! O crédito pessoal passa para 3,88%... ao mês (só 46,56% ao ano)! Para clientes especiais 1,3. Nestes casos de “simpatia especial”, estes bancos do Estado, SE, se, pagarem os mesmos imposto estarão a trabalhar de graça.
Mas como somos todos palhaços, há muito papalvo que acredita.

É com estas lições de ética, dignidade e sofismas, além da deplorável estupidez do “Gênero”, obrigatório nos diplomas, que o Brasil quer um assento no Conselho de Segurança da ONU.
Se isso, por infelicidade, acontecer e for nomeda uma mulher ela terá que ter... uma assenta!



16/04/2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012



A (des) União Europeia



As Grandes Crises - 2



É mais do que sabido, repetido e enjoativo, recordar o porquê desta imensa crise que abala o mundo, sobretudo a Europa e os EUA.
Gastaram mais do que tinham, criaram monstros administrativos –muitos deles ineptos - endividaram-se às máquinas de fazer dinheiro, e hoje... parece que as máquinas emperraram! Ou então estão em uso exclusivo dos bancos e de alguns mais espertos.
Há uns vinte anos o Canadá levou um puxão de orelhas dessas agora famosérrimas e odiadas empresas de rating – aquelas que dão o triple AAA, ou o triple C-, rebaixam, ou... – e assim despertou para a necessidade de dar uma arrumação na casa. Com determinação e alguns sacrifícios iniciais, hoje o Canadá é considerado o país financeiramente mais estável!
E tem coisas curiosas: aquando do puxão de orelhas, o primeiro ministro abdicou do seu salário! Atualmente um ministro – e para ser ministro tem que ser deputado (olha o cara aí: teve que ser votado, e não só escolhido!) mora na sua própria casa, vai para o trabalho no seu carro – o carro oficial é para deslocações em servico, exclusivamente) e juntando o que ganha como deputado e como ministro, recebe no fim de cada mês – doze meses – o equivalente a € 8.900. O seu chefe de gabinete, 4.000.
No Brasil o salário de um só deputado daria para pagar o governo todo do Canadá! E em Portugal?
Naquele país as contas são totalmente transparentes: há uma empresa, não controlada pelo governo, que detalha na Internet todas as despesas que ultrapassam US$ 10.000. E as grandes verbas são espiolhadas ao cêntimo. O diretor dessa empresa é eleito, e não pode permanecer no cargo mais de dez anos.
Na ocasião as forças armadas queriam comprar cem tanques de guerra! O primeiro ministro deu risada: “Quem pode declarar-nos guerra e invadir o Canadá? Só se forem os EUA, os únicos vizinhos que temos. E o que faríamos nós com cem tanques?”
Não compraram os tanques!
Na Suécia, o susto também despertou aquela civilizada gente. Por exemplo: criaram empresas concorrentes com algumas do estado, como os correios. Fecharam 1.800 agências por todo o país e entregaram a distribuição nesses lugares a supermercados e outras lojas. Tudo funciona perfeitamente, e os custos reduziram drasticamente!
Consultados, os suecos acham que há muito tempo isso devia ter sido feito. Porquê serem obrigados a usar um serviço que lhes é imposto pelo governo? Quem tem que decidir os destinos de cada um é o “cada um” mesmo! Esse “cada um” tem que ter liberdade de escolha, e não subjugar-se a imposições monopolistas.
Quando foi necessário reduzir postos de trabalho, tanto no Canadá como na Suécia, o entendimento entre empregador e sindicatos foi fácil: ou reduz ou vai à falência! Os acordos aconteceram sem perturbações e não tardou a que mais de 90% tivessem recuperado trabalho em outros lugares.
Além disso os suecos deram o seu acordo para que a idade da aposentadoria passasse para os 75 anos.
Em França, terra das greves – não há semana sem greves: transportes, controladores de voos, professores, metalurgicos, funcionários públicos, etc, etc. – quando o governo anunciou que a aposentadoria passaria de 60 para 61 o país parou!
Aliás, em França, o país, com o chamado “Estado Social ou de Previdência”, caminha a passos largos para ficar igual à Grécia. Ou pior. Os políticos abordam temas demagógicos nesta corrida pela presidência, mas até agora, num unzinho deles pôs o dedo na ferida: não pode mais existir esquerda ou direita. Muito menos degladiarem-se. Tem que haver unidade para salvar o país da bancarrota.
Um dia cede a direita, no outro a esquerda, mas o fundamental é ninguém ceder a pressões de politicagem e esquecer que o cofre está vazio. Os sindicatos devem fazer parte integrante do governo para acabarem com as constantes e festivas greves.
É fácil “exigir” mais dos patrões. O difícil é consiliar os interesses em benefício do todo.
Com tanta pressão dessas greves e sindicatos, a um ritmo impresionante, as empresas francesas estão a dar o fora do país, e vão para a Roménia, Ucrânia, Tunísia, China, etc. E os empregados? Para a rua.
Só neste pouco ano 2012 já fecharam ou faliram cerca de 12.000 – doze mil – PME’s!
Quem são os países que continuam com o pescoço fora da água? Aqueles para quem o Estado Social é pouco mais do que um “supônhamos”, com exceção dos escandinavos que conseguiram atingir um tal nível de desenvolvimento e educação político e social, que lhes permite apertar o cinto quando necessário e alargá-lo quando podem. Entretanto continuam a investir com força na educação, talvez a única garantia que um futuro mais ou menos próximo possa prever: o conhecimento, a tecnologia, a liderança.
O exemplo da Alemanha também é muito curioso: solta foguetes com os brilhantes resultados do grupo Volkswagen, mas esquece, ou disfarça, porque não fala nisso, que há no país mais de 4 milhões de desempregados que vivem da caridade, e dormem em abrigos de ONG’s! Estranho, né?
Finalmente a calamitosa UE decididu abrir um Banco Central único. Agora nenhum país é mais soberano. E aquele que não cumprir as metas impostas o que lhe vão fazer? Pô-los fora do Euro?
Com tamanho arrocho nos despedimentos, aumento de impostos, etc., nenhum país agora moribundo vai poder sobreviver.
Segundo os entendidos, o mínimo que um país precisa para reacender a economia, é crescer 1,5% (do PIB) por ano. Com a redução de salários, aumento de impostos, fechamento de empresas, vai crescer como? Não vai.
Lembra uma velha piada do Salazar: A economia de Portugal nunca foi brilhante, mas ia-se aguentando. Um dia o conselho de ministros disse a Salazar que a única maneira de sairem daquele marasmo era declarar guerra aos EUA: os americanos ganhariam num instante, invadindo o país com dólares, e estamos safos. Salazar ouviu, e como sempre pediu uma semana para pensar. Próxima reunião ministerial, Salazar entra, os ministros todos nervoisissimos sobre a decisão do chefe, que declara: “Estive a pensar profundamente na proposta que fizeram. Em princípio a idéia parece boa, mas... e se nós ganharmos a guerra?”
Hoje, a quem declarar guerra? A solução pode estar nos árabes. São eles que têm a grana. E isso para Portugal não seria novidade! Em 711 quando os dois “reis” visigodos não se entenderam, Tarique veio em ajuda de um deles e... tomou conta de quase toda a Península, onde ficaram vários séculos e, em muito influenciaram e desenvolveram a cultura dos hispânicos.
Agora seria mais fácil: um telefonema aos “Irmãos Muçulmanos”, e pronto, a Al-queda viria num instante, com Sharia e tudo, evitando assim que as mulheres andassem com os peitos e pernas ao léu, e os homens economizariam pelo menos nas lâminas e sabão da barba!
Além disso encontrariam o centro espiritual em Fátima, com o nome da filha do Profeta!
Talvez até mudassem a peregrinação a Meca...

12/04/2012

segunda-feira, 9 de abril de 2012


(Texto de “APONTAMENTOS SOBRE A OCUPAÇÃO E INICIO DOS ESTABELECIMENTOS DOS PORTUGUESES NO CONGO, ANGOLA E BENGUELA” coligidos por Alfredo Albuquerque Felner, 1933)


Três Governadores de Angola

1593 - 1603


D. Jerónimo de Almeida (1593-1594) sucedendo ao irmão no governo de Angola, (Francisco de Almeida, o que fez um monte de burrada!) compondo-se e condescendendo com os jesuítas, prossegue na conquista, e chamando a conselho os capitães e conquistadores velhos, expôs-lhes a situação pedindo o seu parecer, ao que eles concordaram visto El-Rei desejar tanto a conquista das minas de prata de Cambambe essa fosse a empresa.
Obtido o acordo, seguiu para o Cuanza para castigar primeiro alguns sobas rebeldes e apoderar-se das minas de sal, onde construiu uma fortaleza. Dispunha-se ainda, antes de ir sobre Cambambe, a atacar o Cafuxe Cambáre, célebre jaga que tanto trabalho nos deu, quando adoeceu gravemente, sendo obrigado a retirar para Luanda, deixando instruções para o prosseguimento da conquista, que Baltazar de Almeida, assumindo o comando das tropas, conduziu de forma a cair num ardil que lhe armou o soba Cafuxe, resultando a perda do seu exército, deixando mortos 206 brancos, além de muitos indígenas.
Não nos indicam os cronistas as intenções de Furtado de Mendonça (1594-1602), que se lhe seguiu no governo, mas vemos que, abandonando a Quissama e Cafuxe, se dirige com as suas tropas para Icolo e Bengo, talvez na in¬tenção de ir atacar os fidalgos fronteiros do Congo, que também jagas seriam. Acampando na época das chuvas, uma epidemia levou-lhe mais de duzentos dos seus soldados, e ele próprio, bastante doente, teve de retirar para Luanda. Restabelecido, marchou de novo pelo Bengo para o interior, cujos sobas castigou com severidade (1), mas entretanto os do sul atacaram Massangano, que, sempre heróica, soube resistir, até que o valente Baltazar Rebelo de Aragão, o Bangalambata como lhe chamava o gentio, foi mandado em seu auxílio e derrotou os atacantes perseguindo-os até à Quissama, onde foi fundar à sua custa um outro presídio, em lugar do que D. Jerónimo de Almeida deixara na Adenda, que melhor garantisse a posse das minas de sal.
Mais nos não dizem os cronistas da época sobre a acção de João Furtado de Mendonça, e, contudo, parece fora de dúvida que por 1601 ou 1602, ele foi em viagem de negócio pela costa para o sul, chegando a Benguela, onde fundeou as suas embarcações, e, desembarcando, fez construir um fortim de madeira para se defender, com cinquenta homens que levava, de qualquer possível ataque dos naturais. Entrando em negociações com eles, rapidamente adquiriu grande quantidade de vacas e esplêndidos carneiros, milho e madeira de Cacongo, com que fez carregar uma embarcação, e em poucos dias mais tinha quinhentas cabeças de gado, muito cobre e marfim, com que carregou mais três embarca¬ções que levava, e regressou então a Luanda (2).
Da política de suborno empregada para tornar possível o domínio da Espanha, chegara-se à corrupção e desmoralização de todos e de tudo, e os negócios do Estado, pelo que diziam respeito às nossas conquistas e à política externa, eram dirigidos conforme as necessidades e conveniências de Espanha, sacrificando-se os interesses de Portugal.
Felipe II deixara o reino empenhado e o Duque de Lerma, primeiro ministro de Felipe III, tentou melhorar as arruinadas finanças espanholas. Um dos rendimentos a explorar eram os assentos e as licenças para o fornecimento de escravos, que a Espanha, sem colónia alguma a não ser no norte da África, não tinha aonde os ir buscar na quantidade que precisava e se via na necessidade de contratar, concedendo determinadas vantagens a troco de uma renda certa ou cobrando uma licença.
Por muitos anos e por motivos de diversa ordem andaram os assentos e licenças nas mãos de alemães, flamengos e genoveses, fazendo-se o angariamento de escravos, brancos, mouros, judeus e sobretudo negros, de princípio, nas ilhas do Mediterrâneo, principalmente na Sardenha e ao sul de Espanha, na Andalusia, onde eram numerosos. Depois, à medida que as colónias espanholas se desenvolveram, passaram os possuidores de licenças a irem adquiri-los a Cabo Verde e por fim o Duque de Lerma pensou e bem, que melhor seria fazer o contrato com um português, visto as nossas conquistas da Baixa Etiópia serem manancial inexgotável.
João Rodrigues Coutinho, fidalgo português da melhor linhagem (3), obteve em 1600 que o contrato dos assentos passasse para ele, obrigando-se a fornecer anualmente às colónias espanholas 4.250 escravos e dando à Coroa de Espanha 162.000 ducados (4).
Das conquistas portuguesas, a que melhor podia satisfazer este importante fornecimento era a de Angola, e, para essa, mandavam-se governadores e capitães aquele reino com intento de conquistar as minas de prata de Cambambe... dando juntamente os resgates dos escravos muito fructo, com o que aquelle governo foi tido em mais estimação (5), e, assim, João Coutinho deve ter calculado, que tendo colocação garantida para os escravos que comprasse, maiores lucros obteria se os pudesse resgatar directamente, dirigindo ele as guerras. De dedução em dedução, deve ter terminado por concluir, que tendo de andar pelo interior em guerras para fazer escravos, também podia chegar às minas de Cambambe, e, terminando por propor o contrato da conquista das minas de prata, regularizando ou encobrindo tudo com o cargo de Governador (governou entre 1602-1603), proposta que foi aceite, por parecer que a dita conquista das minas se poderia fazer com menos despesa por via de contrato (6).
Mas não se contentou com isto e mais pediu, dando-lhe Felipe III de Espanha maiores prorogativas que nenhum dos seus antecessores teve, pois levou a faculdade de distribuir mercês de hábitos de Cristo e nomear moços da Real Câmara, além de se ter renovado a provisão equiparando os serviços de Angola aos do norte da África e da Índia tudo para promover a conquista das minas de prata de Cambambe, para cujo efeito levou um grande socorro de munições e de gente (7).
Para completa elucidação deste negócio convém frisar que um dos mais importantes lucros dos assentos e com que se fazia face à renda a pagar à Coroa de Espanha, era o proveniente do contrabando feito pelos navios do assentista, contrabando não só realizado nas Antilhas, mas desde Espanha até lá, com escala pela Mina, Angola e Brasil e ainda com ligações com as naus da Índia arribadas a Luanda para supostas reparações, pagas, à falta de dinheiro moeda, vendendo a fazenda que transportavam. Pode-se, assim, fazer uma idea mais perfeita desta complicada engrenagem administrativa comercial; do pessoal que metia; dos creados que o Governador teria de levar; dos lugares que tinha de arranjar para os empregar... e da moralidade da época.
Era um Governador nestas condições, tendo por assim dizer o monopólio de todos os negócios e, por isso mesmo, dependendo de toda a gente, que convinha aos que exploravam Angola, e, de entre todos aos jesuítas, que o apreciavam, dizendo que era fidalgo tão bem acondicionado & magnifico & de tanta prudência em saber levar aquela gente porque não se podia opor à sua acção sobre os indígenas e desmedida ambição do mando, antes pelo contrário as aproveitava porque lhe facilitavam o cumprimento do seu contrato. E hoje, que se conhecem claramente as intenções de João Coutinho ao ir como Governador para Angola, melhor se pode avaliar o fundamento das lamentações dos jesuítas nas suas crónicas, sobre as medidas tendentes a estorvar ou im¬pedir a sua acção sobre os indígenas e o fim por que as contrariavam, ao passo que louvavam João Coutinho, que sem ter feito mais do que desembarcar e pôr-se em marcha para o interior, como todos os outros faziam, e como o fez D. Francisco de Almeida, eles afirmavam que toda a situação mudava e os sobas fugidos passaram a apresentar-se e a prestar obediência (8).
A evidência se concluí que eram eles, os Jesuítas, feitos no negócio, e tendo real e efectivamente todo o poder sobre os indígenas, de quem eram amos e protectores que manobravam agora de forma a facilitarem a João Coutinho o poder dar cumprimento aos seus contratos, como anos antes tinham manobrado contra D. Francisco de Almeida, e talvez preparado a monumental derrota que o Cafuxe infligiu às nossas tropas comandadas por Baltazar de Almeida.
Com João Rodrigues Coutinho, porém, as cousas passaram-se de outro modo, e, depois de desembarcar o importante socorro que levou e de tomar as medidas para a marcha, iniciou esta em direcção ao Tombo, onde embarcou as suas tropas em pequenas embarcações que subiram o Cuanza até Songa, próximo da Muxima, onde residia aquele soba amigo que Paulo Dias nomeou capitão mor da gente de guerra da terra e fora baptizado com o nome de D. Paulo. Demorou-se no Songo alguns dias, emquanto esperava um reforço que mandou buscar a Massangano e seguiu depois para a Muxima e Malombe, onde parece que se foram apresentar, prestando obediência, os tais numerosos sobas que os Jesuítas referem. Dali foi dar batida ao soba Agoacaiongo, que venceu, aprisionando-lhe grande número de mulheres e crianças (9).
João Rodrigues Coutinho, que se tinha assenhoreado de todos os monopólios e de todas as condições necessárias para o bom êxito dos seus negócios, esqueceu-se contudo de uma, a sua saúde, e uma febre adquirida nesta ocasião por tal forma o atacou, que em seis dias faleceu, morrendo tão grande christâo como elle sempre foy!
A sua morte deu lugar a que os seus capitães começassem em desavenças sobre a sucessão, mas tinha ido com ele para o auxiliar naquela evangélica missão, o padre Jorge Pereyra da nossa companhia que com elle estava e esse, com muyta prudência e autoridade se ouve de maneyra que nomeandolhe o sucessor, que foy Manoel Serveyra Pereyra os aquietou, e pacificou a todos... (10).

(1) Pela narração feita por Battell (Ravenstein), parece que esta segunda marcha sobre o Bengo se deve ter realizado em 1597, sendo comandada por João da Vilória, que combateu mais de dois anos na região de Engazi, actualmente Dembos.
(2) Ravenstein.
(3) João Rodrigues Coutinho, irmão de Frei Luís de Sousa (D. Manuel de Sousa Coutinho), era filho de Lopo de Sousa Coutinho, fidalgo cultor das letras e das ciências físicas e matemáticas e de tanta consideração que «A presença e gravidade, da pessoa era tal, que o rei se compunha quando falava com ele». Lopo Coutinho era bisneto do 2.° Conde de Marialva, e, como se sabe, em 1581, entre os fidalgos que Felipe II mandou perseguir e prender por desafectos à usurpação espanhola, figuram os filhos do Conde de Marialva. A concessão de mercês por Felipe II a João Coutinho, quando o seu ódio pelos inimigos foi a ponto de enclausurar senhoras fidalgas da família Vimioso, Meneses, Marialva, etc., dá lugar a poder admitir-se, dada a corrupção de costumes da época, que a concessão do contrato tivesse em vista a paga ou compra da sua adesão.
(4) Colecção de tratados de Borges de Castro, 1856, tomo II, págs. 44/45 e G. Scelle, La traite négrière aux Indes de Castille. Por morte de João Coutinho passou o contrato, em 1603, para o irmão Gonçalo Vaz Coutinho, que em 1603 também chegou a ser nomeado Governador de Angola, sendo ainda assentista, mas não tomou posse.
(5) Biblioteca da Ajuda, Cód. 51-VIII-25, fls. 119. Luciano Cordeiro, Memórias. Relação da Costa da Guiné. Luciano Cordeiro indica para esta Relação a data de 1607, mas deve ser entre 1604-1606.
(6) A carta régia que nomeia Coutinho é igual à de todos os outros, sem menção de poderes extraordinários, nem referências ao contrato, que não foi possível encontrar mas que sem dúvida, existiu, porque G. Scelle o indica. André Battel, quando descreve as suas aventuras no tempo do Governador João Coutinho (Ravenstein), conta que este se obrigara a construir três castelos, um em Demba, nas minas de sal; outro em Cambambe, e outro na Baía das Vacas (Benguela).
(7) Fêo Cardoso, Memórias. De um requerimento de Luís Mendes de Vasconcelos sobre o socorro que precisava levar para Angola e a que adiante se fará referência, consta que João Rodrigues Coutinho levou mil homens, muitos cavalos, armas e munições.
(8) Relação do Padre Guerreiro, cit.
(9) Esta narração é baseada em André Battell (Adventures, pág. 37). Na mesma obra, Ravenstein, a pág. 156, apêndice IV, diz-nos que João Coutinho faleceu no Songo, enquanto esperava o reforço que mandara vir de Massangano, e portanto antes de entrar em contacto com o inimigo, tendo sido Manuel Cerveira Pereira quem derrotou o Cafuxe em Agoacaiongo. O Catálogo dos Governadores de Angola diz o mesmo, mudando apenas o local do falecimento para Caculo Quiaquimone. Não sabemos qual o fundamento destas duas versões, e por isso nos cingimos à de André Battell, que se não refere ao soba Cafuxe, mas ao Agoacaiongo. Parece que havia idea de atacar o Cafuxe, mas esse ataque não se efectuou, como se depreende da leitura de uma Snçã de livramto de mel serva pa a fls. 294 do mss. 526 da Colecção Pombalina da Biblioteca Nacional. Conforme sentença baseada no processo de devasa e residência a que se mandou proceder pelo Bacharel Manuel Nogueira, em vista de várias acusações contra Manuel Cerveira, sendo uma delas exactamente a desistência de fazer guerra ao Cafuxe, para o que estava combinado com o soba Langere, por aquele lhe ter dado 40 peças, com o que o dito Langere se anojou deste procedimento.
(10) Relação do Padre Guerreiro, cít.



09/04/2012




quarta-feira, 4 de abril de 2012



As grandes Crises



Rebuscando na história à procura de “Crises”, encontram-se montes delas. Umas provocadas por guerras, outras por epidemias, ainda outras por desastres naturais, as mais incomodas são as das greves, mas a grande maioria vai para a culpa da ganância dos homens, e seu total, TOTAL, desprezo pelo Outro.
Um dos problemas que ajudou a reduzir a influência da Igreja de Roma, foi a sua pregação contra o lucro sobre dinheiro, juros, já que era considerado pecado ganhar dinheiro sem trabalhar. As divisões cristãs que se impuseram depois da Reforma, defenderam a idéia de que o homem, enquanto está na terra, deve aproveitar TUDO que Deus “pôs” à sua disposição, incluindo emprestar dinheiro a juros. Os miseráveis e até os babacas estão à disposição!
Os judeus têm neste campo uma filosofia muito mais “descarada”, quando a sua lei lhes diz que não devem cobrar juros entre irmãos judeus, mas à vontade a todos os outros. Daí a história nos mostrar um dos porques os judeus, desde sempre, dominaram o mundo da finança.
Hoje vamos às crises financeiras, as que, além das guerras, são provocadas pelos homens e acabam por afetar milhões dos “servos”!
Quando a Inglaterra se viu dona dos mares, da maior e mais potente frota de navios naquela época – século XVII – iniciou uma expansão mundo fora, achando-se com o direito de dominar o mundo! Pelo comércio ou pelos canhões! Foi mais sangrenta a guerra pela Independência da América do que as guerras coloniais de Portugal!
Em 1600 fundaram a “Honourable East India Company” (gosto muito do “honourable”!), que não conseguia rivalizar com a sua concorrente holandesesa, de enorme sucesso, a “Veereennigde Oostindishce Compagnie”, de capitais privados. De repente é feito rei dos britânicos o holandês William de Orange e sua mulher Mary (que reinaram em simultâneo) que levou consigo a “técnica holandesa”: onde buscar capitais. Para desenvolver o comércio e arranjar dinheiro para o rei fazer as suas guerras, dois monstros foram criados: em 1694 o Bank of England, só de capitais privados, e em 1711 a nova “South Sea Company”. Movimentava-se muito dinheiro e os navios que iam e vinham à América, Índia e Oriente, davam lucros imensos. Em 1719 os diretores da nova companhia britânica “inventaram” transformar uma enorme fatia da dívida pública em empréstimos em que o governo pagaria juros inferiores aos que tinha contratado. E criou o “mercado” de ações, os “bonds”, £1 para £1 do débito do governo, para logo a seguir venderem esses títulos a preços bem mais altos. E começa a especulação desenfreada. Não tardou a que se emprestasse £250 a quem tinha £100 de títulos e garantindo um juro de 5%. A manipulação de preços variou de £1 a £1.000. O comércio crescia e todo e qualquer cidadão britânico queria ficar rico. Todos queriam mais e mais dinheiro. Gente houve que empenhou tudo quanto tinha para aplicar nesse mercado fictício, à espera de lucros imensos.
Em 1720 a “bolha” cresceu demais, e a “South Sea Company”... estourou! E na miséria ficaram milhares de otários!
Em 1929 foi Wall Street que estourou. Por razões muito iguais: a loucura do dinheiro fácil inflacionou o valor das ações da Bolsa, o povo desconfiou que estava a ser enganado e decidiu livrar-se daqueles “malditos papeis” de qualquer forma. Depois correu aos bancos para levantar o que ainda lá pudesse encontrar. E na miséria ficaram mais uns milhares ou milhões de americanos.
Há ainda poucos anos os japoneses “inventaram” outro sistema de “fazer” dinheiro. Como o bem material mais precioso para qualquer família é a posse da sua casa, a sua propriedade, os economistas bancários decidiram que quanto mais alto fosse o valor deste bem mais dinheiro se poria a circular. E concedendo créditos para a compra do imóvel a 30 anos, a rentabilidade da banca ficaria assegurada por muito tampo. E assim fizeram: os preços dos imóveis foram às alturas, a japonesada toda achou que estava rica, endividou-se e... chegou a um ponto que não podia mais pagar!
Os Estados Unidos, sempre bonzinho$$$, decidiram ajudar o Japaão a não se enterrar muito, mas de qualquer forma aquelas levas de turistas japoneses, de repente, sumiram.
Finalmente a crise de 2008. Tal qual, tal qual. A repetição da ganância, do dinheiro fácil, do empréstimo à vontade para qualquer um, até inadimplentes, para depois cada banco vender a outro a sua “carteira de clientes”, até que chegou o mesmo, mesmissimo, momento da verdade.
Governos e povo achando-se sob uma torrente de maná! Outro estouro. E não foi, nem será o último.
Os países da Europa e os EUA ficaram de calças nas mãos. O povo então já nem as calças deve ter, mas, e os bancos?
Ah! Os bancos sempre saiem dando risada. Nunca ganharam tanto dinheiro como agora, porque carregaram nos juros, e o dinheiro para alguns nasce mesmo na seca.
E vai ser sempre assim.
O contrasenso de todo este drama, primeiro é não se atender aos exemplos da história. Mas disso ninguém quer saber. O preciso é enganar o otário.
Mas, como se justifica o crescimento vertiginoso do numero de milionários? Com a China, Rússia e até Brasil?
Sempre a mesma coisa: crise é para os que estão por baixo.
A crise é de homens, de ética, vergonha, fraternidade. E isto será para todo o sempre, enquanto neste planeta houver homos que sapien se apropriear de tudo. Como Caim, Jacó e outros milhões.



04/04/2012

domingo, 1 de abril de 2012

1313 [E. 1351], Vila Franca, Março, 19.

Carta régia de doação ao infante D. João Afonso das aldeias do Outeiro de Miranda, Vila Verde de Bragança, Vilarelhos da Terra de Valariça, Cortiços e Cernadela em terra de Ledra.

(Para ler o documento, clique em cima da imagem)

En o nome de deus Amen.
Sabham quantos esta carta uirem como Eu Don Denis pela gra de deus Rey de Portugal / e do Algarue Ensembra con A Reya dona Jsabel mha Molher e con o Jffante dom Afonso nosso filho primeyro herdeyro de / meu prazer e de mha liure uóóntade dou e outorgo a uos Joham Affonso meu filho por Jur de herdamento pera todo sempre, a Aldeya / do Outeyro de Miranda e a Aldeya de Vila uerde de Bragança, e a Aldeya de Vilarelhos de terra de valariça e a Aldeya / dos Cortiços e de Cernadela que son en terra de Leedra con todos seus termhos nouos e uelhos rotos e por Arronper. Montes fontes pascos Aguas / entradas e exidas perteenças e con portagem vozes e cóómhas omezios e todo outro Jur e derecto Real que eu y ey e de derecto deuo a auer / tanbem tenporal come spiritual.
E mando que as aiades liures e quites e eysentas de todo chamamento e de todo foro que a mjm aiam de ffazer / ou a algua vila de meus Reynos. e melhor se as uos poderdes melhor auer. que uos e os uossos filhos lijdimos e aqueles que de uos de/cenderem lijdimamente de derecta linha as aiades e possuades pera todo sempre Liuremente sen contenda nenhua . E sse per uentuyra uos ou / os uossos filhos lijdimos ou aqueles que deles decenderem lijdimamente de derecta linha morrerdes sen filhos Lijdimos a sobredicta terra con / todos seus termhos e perteenças e con todos seus melhoramentos tornem sse aa Coroa do Reyno liuremente sen enbargo nenhúu.
E prometo / a teer e aguardar a uos sobredicto Joham afonso esta doaçom sobredicta assy como dicto he. e nom urjr en contrayro. E se alguus dos / meus succesores ou outros o que lhys deus e nom leyxe fazer a uos ou a cada huu dos uossos filhos lijdimos ou aaqueles que deles decenderem / lijdimamente de dereyta linha esta mha doaçom quiserem enbargar nom lhy seia outorgado mays se solamente quiser prouar pera en / barga la aia a yra e a maldiçom de deus e de santa Maria e de toda a Corte celestial e a minha pera todo sempre. E os que esta / doaçom guardarem e conprirem seiam todos conpridos de toda beençom.
E por esta mha doaçom seer mays firme e nom uijr / poys en duuida. dou ende esta mha carta ao dicto Joham Affonso seelada do meu seelo do Chunbo.
Dante en. Vila franca / dez e noue dias de Março. El Rey o mandou. Bertolameu perez a ffez. Era de Mill trezentos cinquoenta e húü Ano.../

.el Rey a uyo: //

El R. D. Danys

Lisboa, A.N.T. T., Gaveta 3, m. 2, doc. n.0 15.


Nota: No começo da escrita "atual" vão algumas letras em vermelho, indicando que não constam no documento original. Quem for comparar verificará que há muitas outras palavras com bem menos letras. Podem procurar!


01/04/2012